Educação Ditatorial x Educação Consciente:
É muito triste assistir uma boa parcela dos pai de hoje não serem
amigos dos seus filhos e filhas. A imposição, quase ditatorial, da
vontade e dos próprios pontos de vista, sem ao menos tentar entender a
perspectiva do primogênito sobre um assunto, é como por um pesado e
lamentoso grilhão sobre os pés, é anular o livre arbítrio do outro e
cancelar a oportunidade de aprendizado. Imagino quantas crianças
repetirão esse mesmo comportamento, em maior ou menor escala, com seus
futuros filhos e netos. Qual será a reação da juventude, relativo à esse
comportamento, de acordo com os costumes/crenças sócio-religiosos e
econômicos do futuro? Não tenho a resposta mas é algo à se perguntar
desde já.
Suponho, que o básico para os pais é compreender que a
prole não é uma propriedade mas uma responsabilidade, embora muitos
pensem diferente, a estadia com os filhos é momentânea e de mero caráter
educacional, se projeta os jovens para o futuro dentro da realidade que
eles captam da vida, sempre o mais próximo possível de um senário
sócio-educativamente saudável, pois o resto fica por conta deles e só
deles. Compreender que nem todo exemplo e ensinamento é passado através
de teorias e conselhos, é uma ferramenta alavancadora para o
desenvolvimento do aprendiz e uma sábia decisão do professor. Livros e
textos dão apenas uma idéia das "barreiras" que podem aparecer nos
caminhos mas pra saber como superá-las, só a experiência vivencial pode
ensinar.
Não estou afirmando que em certos momentos não há a
necessidade de decisões imaleáveis, casos de vida ou morte e saúde são
alguns dos momentos críticos para uma imposição ditatorial. A criança,
por exemplo, por não ter construído ainda um raciocínio lógico e uma
visão mais ampla da realidade, precisa sim dessa imposição... desse
pulso mais firme... mas quando se tem uma certa lucidez responsável ou ao
menos o início de algo parecido, é conselhável a abertura para a
liberdade, fazer isso é deixar o outro aprender a andar sozinho, mesmo
com alguns passos em falso, o avanço é inevitável e uma pisada mais
firme é dáda a cada tentativa, trazendo mais confiança e entendimento a
cada passo. A final de contas um dia todos morreremos e ensinar a pescar
com consciência é melhor que simplesmente dar o peixe em mãos.
Existe um conceito que difere entre dois verbos muito simples: Ter" e
"Sentir". A questão se centraliza na seguinte pergunta: "Eu tenho ou
sinto afetos?". Em um mundo onde tudo é transitório, aonde as coisas
estão em constante mudança, "Ter" algo é muito perigoso, pois se hoje
você "Tem", amanhã você pode não ter mais. E o sofrimento? Como você vai
lhe dar com ele?. O que quero dizer é que criamos laços muito fortes de
amizade entre seres queridos, principalmente quando se trata de filhos.
Se somos dependentes dessa afeição, difícilmente queremos perdê-lo mas
se somente apreciamos este sentimento de amor, conseguimos com mais
facilidade enfrentar esta perda, seja patrocinada por qualquer situação:
distanciamento de uma pessoa amada, morte e outros diversos; Pois
"Sentir" afetos é a maneira mais aconselhável para manter uma relação,
seja ela qual for, isto proporciona mais facilmente a aceitação do
desligamento com os filhos que o avanço da idade traz, e menos angústia
para os pais, nas horas difíceis na vida de seus filhos.
Ampliemos nossas consciências e vejamos nossos filhos além das figuras
frágeis e infantis que aparentam ser, olhemos através do tempo retilíneo
e sintamos que nossas crias podem se tornar ótimas pessoas com suas
próprias lições. Assim como pessoas de grande renome já tiveram
dificuldades, erros e retropeços em suas vidas, creio eu, que todos os
seres humanos que já pisaram na terra ou pisarão, já passaram ou
passarão pelos mesmos problemas que muitos outros passaram, para mais ou
para menos. Foi com essas experiências, que pessoas hoje na fase dos 40
anos em adiante, se tornaram quem são, porque todos erram e aprendem
com o próprio erro, ninguém está livre disso, nem mesmo os idosos - que
ainda hoje continuam aprendendo com a vida a cada dia. Talvez seja por
essa privação do impacto direto com a dificuldade que o mundo exerce,
que muitos jovens apresentam problemas dos mais diversos tipos, desde
problemas: psicossociais, dependência química, distúrbios alimentares e
comportamentáis e etc... não que estes problemas sejam causados apenas
por esta privação mas talvez tenham seu início ou agravante aí.
A grande verdade é que não se sabe o que cada um se tornará mas deixar o
curso seguir o mais naturalmente possível é uma maneira de promover a
evolução sem trapaças e consequentemente sem ser trapaceado. O
egocentrismo parental do "fora de mim não há verdade" só afasta e ilude o
jovem, atrofia a análise de decisão e aleija o significado da lição.
Khalil Gibran deixa mais ou menos claro, uma parte dessa idéia com palavras claras e simples:
"Teus filhos não são teus filhos, são filhos e filhas da vida. Não vêm
de ti mas através de ti, embora estejam contigo não te pertencem."
Khalil Gibran.
Punga.
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